A tecnologia vem alterando radicalmente os modelos de ensino, introduzindo métodos mais interativos, personalizados e acessíveis. Em países onde a infraestrutura digital é robusta, os avanços são visíveis na sala de aula, com a presença de plataformas que medem o desempenho em tempo real, adaptam conteúdos às necessidades dos alunos e facilitam o contato direto entre professores e estudantes. Essa realidade, no entanto, ainda está distante de muitas regiões do Brasil, onde os recursos básicos, como internet estável e equipamentos funcionais, continuam sendo desafios persistentes.
Enquanto nações desenvolvidas investem em inteligência artificial para mapear trajetórias de aprendizado e prever lacunas educacionais antes mesmo que se manifestem, parte significativa do território brasileiro ainda enfrenta problemas estruturais como a ausência de conectividade e formação deficiente de docentes para lidar com as novas ferramentas. Essa disparidade não apenas limita o potencial de alunos brasileiros, mas também os distancia das exigências de um mercado global em rápida transformação, criando uma nova forma de exclusão educacional.
A pandemia de 2020 acelerou o uso da tecnologia no ensino em escala mundial, mas expôs também as fragilidades dos sistemas educacionais menos preparados. Em países com políticas públicas bem articuladas, a transição para o ensino remoto foi rápida e eficaz, garantindo continuidade nos estudos e suporte às famílias. No Brasil, a improvisação foi a regra em muitas redes públicas, com envio de atividades impressas e aulas transmitidas por rádio e televisão, revelando a distância entre o discurso da inovação e a realidade prática de milhões de estudantes.
Esse abismo digital entre países, e também dentro do próprio Brasil, mostra que a incorporação tecnológica à educação não é apenas uma questão de adquirir ferramentas, mas de repensar o sistema como um todo. Envolve políticas públicas consistentes, investimento contínuo em infraestrutura, formação adequada de professores e um planejamento pedagógico que valorize o papel humano no processo educativo. A simples presença de dispositivos em sala de aula, sem estratégia e preparo, não garante aprendizagem efetiva.
Além disso, a evolução tecnológica tem provocado mudanças no perfil do conhecimento valorizado no mundo do trabalho. Habilidades como pensamento crítico, criatividade, resolução de problemas e domínio de linguagens digitais são cada vez mais exigidas. Em países que compreendem essa dinâmica, a educação tem sido direcionada para formar cidadãos capazes de se adaptar às constantes transformações. Já em contextos onde a tecnologia ainda é vista como acessório, e não como motor de mudança, o risco de marginalização aumenta.
O Brasil enfrenta uma encruzilhada: pode utilizar a tecnologia para democratizar o acesso à educação de qualidade ou aprofundar as desigualdades existentes. O cenário atual exige escolhas firmes e uma visão de longo prazo, algo que muitas vezes esbarra na descontinuidade de políticas públicas e na falta de integração entre os diferentes níveis de governo. É preciso olhar para experiências internacionais não como modelos a serem copiados, mas como inspirações adaptáveis à realidade local, respeitando as especificidades culturais e sociais do país.
As soluções para reduzir essa disparidade tecnológica passam pelo fortalecimento das redes públicas, ampliação do acesso à internet em áreas rurais e periféricas e valorização dos profissionais da educação. Iniciativas isoladas e projetos pontuais não são suficientes para provocar mudanças estruturais. É necessário um pacto nacional que envolva governo, sociedade civil e setor privado, com metas claras e fiscalização rigorosa. A transformação educacional passa, obrigatoriamente, pela superação da desigualdade digital.
O futuro da educação e da tecnologia: caminhos divergentes no Brasil e no mundo exige mais do que promessas. A construção de um sistema educacional realmente moderno demanda comprometimento com a equidade e a inovação. Enquanto alguns países seguem na vanguarda, apostando em dados e algoritmos para aprimorar o ensino, outros, como o Brasil, ainda lutam por condições mínimas para que seus alunos tenham oportunidades reais de desenvolvimento. O desafio está lançado, e o tempo para agir está se esgotando.
Autor : Schiller Mann