O cenário da tecnologia no Brasil ainda é marcado por uma desigualdade expressiva quando se trata da presença feminina em cargos da área. Embora os avanços tecnológicos tenham transformado o mundo corporativo, apenas uma em cada cinco contratações no setor é ocupada por mulheres. Isso evidencia um abismo preocupante entre o discurso de inovação e a prática inclusiva nas empresas. A baixa representatividade feminina levanta questionamentos não apenas sobre equidade, mas também sobre as oportunidades perdidas de contar com perspectivas diversas em um setor essencial para o futuro.
Esse panorama mostra que as mulheres continuam enfrentando barreiras estruturais para ingressar e se manter em cargos tecnológicos. A cultura corporativa, predominantemente masculina, ainda impõe obstáculos sutis, como a falta de modelos femininos em posições de liderança ou a dificuldade de conciliar a vida pessoal com ambientes de trabalho que não acolhem a diversidade. A consequência direta disso é a limitação no número de contratações femininas, o que mantém o ciclo de exclusão ativo e pouco desafiado por políticas efetivas de mudança.
Outro fator que contribui para essa realidade é a pouca presença de mulheres nas formações técnicas e superiores voltadas para a área de tecnologia. Embora iniciativas educativas busquem atrair mais alunas para cursos de programação, ciência de dados e engenharia, a adesão ainda é tímida. Essa disparidade na base educacional reflete diretamente no perfil das candidatas às vagas e, por consequência, na quantidade reduzida de contratações. É um problema que precisa ser enfrentado desde os primeiros anos escolares, com estímulo ao interesse por carreiras digitais.
Além disso, há uma questão perceptível nas empresas quanto à forma como as candidatas são avaliadas nos processos seletivos. Estudos mostram que a mesma competência técnica pode ser interpretada de maneira diferente dependendo do gênero de quem a apresenta. Isso demonstra que o problema não está apenas na escassez de profissionais mulheres disponíveis, mas também nos critérios usados para contratá-las. A meritocracia, muitas vezes exaltada como neutra, não considera as desigualdades de ponto de partida entre homens e mulheres.
As lideranças organizacionais têm um papel crucial nessa mudança. São elas que determinam as prioridades estratégicas e os valores que guiam os processos de recrutamento. Se a diversidade de gênero não for tratada como um fator essencial para a inovação e competitividade, dificilmente haverá transformações reais. O setor de tecnologia, em particular, que vive em constante adaptação, precisa incorporar também mudanças sociais para garantir um ambiente verdadeiramente inclusivo.
Ainda que haja iniciativas pontuais promovendo a inserção de mulheres no mercado de tecnologia, elas não são suficientes para alterar o quadro em larga escala. Programas de mentorias, capacitação e incentivos fiscais para empresas que adotam práticas inclusivas são exemplos de caminhos que podem ser explorados. O problema é que essas ações, quando isoladas e sem comprometimento institucional, tornam-se simbólicas e ineficazes diante da complexidade do desafio.
É fundamental também que a sociedade, como um todo, compreenda os impactos dessa disparidade de gênero nas contratações. Não se trata apenas de uma questão de justiça social, mas de eficiência econômica. Pesquisas já indicam que equipes diversas são mais produtivas e criativas, algo essencial em um setor que depende da constante inovação. Portanto, ignorar a sub-representação feminina é abrir mão de uma parcela significativa de talentos com potencial para contribuir de maneira decisiva no desenvolvimento tecnológico do país.
Por fim, o enfrentamento desse problema exige mais do que campanhas temporárias ou metas superficiais. É preciso um esforço sistêmico, com ações integradas entre governos, setor privado e instituições de ensino. Criar ambientes acolhedores, reavaliar critérios de contratação e investir na formação de meninas e mulheres são medidas que, somadas, podem alterar esse cenário. A tecnologia, por sua natureza, deveria ser um espaço de transformação e oportunidade para todos — e é hora de fazer com que essa promessa se cumpra também para as mulheres.
Autor : Schiller Mann